quarta-feira, 28 de maio de 2008

A fotografia da HiRiSe acabou de ficar ainda melhor!!

No post anterior mostrei a espetacular foto, tirada pela câmara HiRiSe, à entrada da sonda Phoenix na atmosfera marciana. O que faltou foi inserir a foto, que corresponde a uma peça num mosaico gigante de pequenas fotografias, no seu contexto global. Hoje a equipa responsável pela HiRiSe montou o puzzle de imagens, que foram enviadas juntamente com a da phoenix e do seu páraquedas, e observaram esta imagem extraordinária.Não sei como é que vocês reagiram mas o meu queixo caiu no chão depois de ver esta foto!
A cratera que se encontra como fundo dá pelo nome de Heimdall e tem cerca de 10km de diâmetro. A fotografia foi tirada cerca de 20 segundos depois de o páraquedas da phoenix ter aberto quando se encontrava a cerca de 8-10 km da superfície. Embora a sonda pareça estar a dirigir-se para a cratera, o seu local de aterragem (amartagem) foi bem longe desta.
Só tenho pena que o saudoso Carl Sagan não esteja vivo para ver esta imagem.

terça-feira, 27 de maio de 2008

A Phoenix já amartou!!!

Como não podia deixar de ser, tenho que escrever aqui sobre o que considero ser um dos maiores feitos de engenharia e ciência dos nossos tempos. A sonda Phoenix, cujo nome invoca as anteriores sondas perdidas em missões similares, amartou neste domingo passado, 25 de Maio, no pólo norte marciano.
Esta operação, descrita pelo administrador da Nasa Michael Griffin como um golfista fazer um "hole-in-one" dando a tacada nos Estados Unidos e encontrando-se o buraco na Austrália (com a vantagem de o buraco não se mexer), é um feito extraordinário, principalmente se pensarmos que até agora, menos de metade das sondas que tentaram aterrar em marte (amartar será mais correcto) foram bem sucedidas. Com o sucesso desta operação ficamos exactamente com 50% de amartagens bem sucedidas.
A parte mais crítica de toda a viagem, obviamente, é a entrada da sonda na atmosfera de Marte, quando tem que desacelerar de aproximadamente 20000 Km/h para zero. Esta entrada na atmosfera e consequente amartagem, leva aproximadamente 7 minutos que foram carinhosamente apelidados de "7 minutos de terror". O tempo que a luz demora a chegar desde marte à terra (varia conforme a distância a que marte se encontra de nós) é de aproximadamente 10 minutos, o que significa que quando começámos a receber o sinal já o destino da sonda estava traçado, portanto nada há a fazer senão fornecer-lhe boas ferramentas para que a sonda se desenrasque sozinha (em bom português).
Em vez de descrever mais pormenores da construção da sonda, deixo-vos com um pequeno trailer feito pela Nasa sobre estes 7 minutos de terror. Note-se o espírito de Hollywood com que foi filmado, parece que finalmente os cientistas e engenheiros perceberam que também é necessário algum marketing para que a comunidade leiga também se entusiasme com estes feitos extraordinários, que aos olhos dos não interessados podem passar por rotineiros.

E agora vejam este vídeo que mostra uma montagem, com partes da animação que puderam ver no vídeo acima juntamente com as reacções no centro de controlo do JPL, e onde se pode ver as reacções em tempo real às informações que a phoenix ia transmitindo enquanto passava por todo o processo de amartagem. Imaginem a adrenalina que deve estar a correr nas veias de todos os colaboradores desta missão neste momento, depois de vários anos de trabalho árduo, chegado o momento do tudo ou nada.

E para acabar em beleza deixo-vos com uma imagem que considero como sendo uma das fotografias mais espetaculares que nós enquanto seres humanos já tirámos. Esta fotografia foi tirada pela câmara HiRISE a bordo da Mars Reconnaissance Orbiter e mostra a entrada na atmosfera da sonda phoenix!!!!!!
Sim isso mesmo que vocês leram, temos uma fotografia da phoenix e do seu páraquedas enquanto voavam pelos céus marcianos. Até dá para ver os cabos que prendem a sonda e o escudo térmico ao páraquedas, fantástico não é?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Teste de "Geekiness"

Sempre achei que uma boa maneira de testar o quão "geek" estou a ficar, é ver a minha reacção quando leio algumas piadas de matemática e/ou física. Hoje deparei-me com duas piadas de matemática e a minha reacção instantânea foi de riso, e o mais grave é que comecei logo a fazer comentários engraçados (pelos menos no meu ponto de vista) sobre as piadas em si. Tendo em conta a minha reacção penso que já não há esperança para mim, caí profundamente no fosso abissal do estereótipo do cientista. Já só me faltam os óculos.
Para ver se estou só ou se afinal existem outros que se querem juntar a mim nesta filosofia de vida, vou meter aqui as piadas.
Esta foi a que mais gostei, não estava à espera de uma piada complexa (e não páro!!!!!aaaaahhhh)
Esta seguinte também achei bastante engraçada.
Se tiverem piadas engraçadas sobre ciência por favor sintam-se à vontade para partilhar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Embuste Lunar, os Cientistas Mações e Outras Parvoíces

Não tenho tido muito tempo para escrever, mas hoje vi um post no Bad Astronomy Blog tão bom (ou tão mau, depende do ponto de vista) que não pude deixar de partilhar com vocês. Se tiverem 10 minutos vejam este vídeo porque vale a pena. Este senhor, que pelos vistos é um grande adepto das teorias da conspiração, leva a arte de distorcer factos e tirar conclusões erradas ao seu expoente máximo. Neste vídeo ele tenta fazer uma ligação entre o LHC (Large Hadron Collider, ver posts aqui e aqui) e a criação de um buraco na cintura de Van Allen que trará para a terra os anjos caídos que se encontram no planeta Nibiru, portais para outras dimensões, raios cósmicos e, claro, como tudo isto está previsto na bíblia.



A única coisa boa que tiramos daqui é que desta forma sabemos que o desenvolvimento de processos "user-friendly" para a tecnologia (nomeadamente câmaras de vídeo e computadores) está realmente a funcionar bem, pois de outra maneira não consigo perceber como este senhor poderia ter filmado esta obra de arte tal é a sua ignorância no que toca à ciência.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A vida em Slow Motion

Certamente já imaginaram como seria poder abrandar o tempo e ver como é o mundo à nossa volta algumas ordens de grandeza mais lento.
Através de câmaras de vídeo que conseguem processar até 16 000 imagens por segundo podemos ver acções comuns cuja beleza nos escapa por não conseguirmos observar os acontecimentos tão rapidamente como desejaríamos. Se os nossos cérebros fossem capazes de tal feito não teríamos qualquer dificuldade em compreender a dinâmica clássica, bem como a dinâmica dos fluídos. Saberíamos sem qualquer sombra de dúvidas que as gotas da chuva não se parecem com o desenho de uma lágrima como são usualmente representadas, mas sim com esferas (se forem suficientemente pequenas) ou com a forma de um hamburger (se forem maiores).
Podem ver nos filmes seguintes algumas das imagens espectaculares que se conseguem obter, quando filmamos o mundo em câmara lenta.





sexta-feira, 9 de maio de 2008

Imagem do vulcão Chaitén

Após cerca de 9000 anos de inactividade, o vulcão Chaitén, localizado no sul do Chile, na América do sul, entrou em erupção no passado dia 2 de Maio. A população da cidade de chaitén, que se encontra a apenas 10 km da cratera do vulcão, teve que ser evacuada e outras cidades viram as suas reservas de água envenenadas devido à erupção. Os esforços da protecção civil chilena funcionaram extremamente bem e como consequência há apenas uma morte a lamentar. A nuvem de cinzas elevou-se a 15 km de altura, criando assim um caminho de menor resistência para os relâmpagos da tempestade que ocorreu nessa noite, proporcionando-nos assim imagens de rara beleza como esta.
(Crédito da foto - UPI, Carlos Gutierrez)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pangea Day

É já no dia 10 de Maio das 19:00 às 23:00 (hora portuguesa) que vai decorrer o dia da Pangeia, um dia em que todo o mundo estará ligado através das imagens. Vão ser quatro horas em que serão exibidos 24 filmes escolhidos através de uma competição internacional em que participaram mais de 2500 pessoas de mais de 100 países. Este festival será transmitido em directo, em 7 línguas diferentes e de 6 países distintos em simultâneo, para milhões de pessoas em todo o mundo, através da televisão, da Internet e até de telemóveis.
Os locais escolhidos para serem os anfitriões desta festa mundial foram as cidades do Cairo, Kigali, Londres, Los Angeles, Mumbai e o Rio de Janeiro e a cerimónia será legendada em Árabe, Inglês, Francês, Alemão, Hindi, Português e Espanhol.
Esta ideia surgiu da vencedora do prémio TED em 2006, a realizadora de documentários Jehane Noujaim cujo desejo era criar um festival cinéfilo que cruzasse todas a miríade de culturas diferentes que compõem a humanidade. Seria então, segundo a sua visão, apresentada uma maratona de filmes, amadores e profissionais, cujo objectivo principal era dar uma visão do mundo vista pelos olhos do "Outro". Com esta iniciativa, Jehane Noujaim espera que pessoas de todos os países do mundo consigam esquecer os estereótipos e identificar-se com as pessoas de outros países que por vezes estão tão perto geograficamente mas de cujos costumes nada conhecemos.

Por todo o mundo, milhares de pessoas estão a organizar encontros que podem ir desde festas públicas, como a organizada pelo IST, até pequenos encontros com amigos cujo objectivo é ver o mundo através de outros olhos.

Podem ver nos vídeos abaixo alguns dos teasers criados para este festival cujo tema é "Ver o mundo através dos olhos de outra pessoa"





E como não podia deixar de ser, aqui fica a opinião de um cientista, neste caso o físico da Universidade de Manchester Brian Cox, sobre o dia da Pangeia

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Aprender Física Brincando

O saudoso físico Richard Feynman, numa das suas biografias conta-nos como o seu pai, que, não sendo cientista, era no entanto um apreciador do estudo das ciências naturais, o incentivava a encontrar os padrões e a lógica por detrás de qualquer actividade banal.
Uma das histórias que ele nos conta passou-se quando Feynman ainda era bebé. Muitas vezes ele e o pai brincavam, colocando vários tijolos em pé uns atrás dos outros como por vezes fazemos com peças de dominó, e empurrando o primeiro para ver as peças caindo em cascata. Depois de conseguir prender a atenção do filho com este simples jogo, o seu pai começava então a colocar uma peça de uma cor seguida de uma peça de outra cor seguida de outra peça com a cor da primeira e assim sucessivamente. Deste modo Feynman era obrigado a entender o padrão pois o seu pai não o deixava inserir peças que não obedecessem ao padrão escolhido (mesmo que por vezes a mãe pensasse que isso era um tipo de tortura que estava a ser feita ao pobre rapaz).
A jogar este e outros jogos deste tipo, Feynman estava a aprender regras matemáticas elementares sem que se apercebesse.
Um dos principais problemas apontados no ensino da física moderna é o facto de os nossos cérebros terem evoluído de modo a compreender o que se passa no mundo à nossa escala. Nós olhamos para uma pedra e temos a percepção que a rocha é dura e impenetrável mesmo sabendo que ela consiste essencialmente de espaço vazio, no entanto se fôssemos do tamanho de um neutrino, seria lógico para nós que a pedra era tão "transparente" como o ar que nos rodeia. Se nos deslocássemos a velocidades perto da velocidade da luz, não teríamos qualquer dificuldade em entender a contracção do espaço e a dilatação do tempo. Ou seja, se desde novos conseguirmos de alguma forma visualizar o mundo subatómico, não deveremos ter tanta dificuldade em aprender e perceber os conceitos que regem a mecânica quântica. O mesmo se passa com a relatividade, geral e restrita. Enquanto não existem meios tecnológicos para que isto aconteça, é bom saber que já há pessoas a desenvolver tecnologia com este intuito, mesmo que seja só para efeitos que ocorrem à nossa escala. Uma das ferramentas que veio ajudar imenso na compreensão da física à nossa escala foi o computador e os jogos que neles podemos jogar. Nos jogos modernos existe cada vez mais uma preocupação em fazer as interacções do jogador com os elementos presentes no ecrã parecerem o mais reais possível. Para isto, os elementos têm que seguir as leis da física pois, de outro modo, o jogador apercebe-se que algo está estranho mesmo sem saber o quê. É o equivalente a ver uma pintura em que as sombras não estejam correctas.
Podem ver no vídeo abaixo uma demonstração de um destes programas pedagógicos chamado Crayon Physics Deluxe.
Quantos futuros físicos não estarão neste momento a tirar partido de este jogo tão interessante?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Homeopatia ou a Banha da Cobra

Há pouco tempo deparei-me com um post no blog De Rerum Natura sobre a homeopatia e as pseudo-ciências. Sendo este um tema que me toca especialmente, pois para além de ser investigador tenho um especial interesse no ensino, na divulgação científica e na opinião pública da ciência, fui informar-me acerca deste movimento em Portugal.
Ao efectuar uma pesquisa na internet dei de caras com duas associações portuguesas de homeopatia, a sociedade homeopática de portugal e a associação portuguesa de homeopatia. Após uma vistoria geral dos sites encontrei algumas zonas que faziam ligação para artigos sobre a homeopatia, e como esperava, em nenhum deles se encontram referências a artigos publicados em revistas com "peer review" (ou revisão por pares). Daqui se depreende que estas práticas holísticas de medicina alternativa não têm nenhum fundo científico e que as tentativas dos seus praticantes de utilizar discurso pseudo-científico na apresentação do método ao público, descambam num discurso vazio de conteúdo mas que se agarra ao sucesso do método científico, que tem sido provado vezes sem conta nos últimos 300 anos. Para os leigos em ciência deve ser complicado distinguir um discurso verdadeiramente científico de um discurso em que o uso de jargão científico se sobrepõe à objectividade da ideia apresentada, e estes vendedores da banha da cobra utilizam essa arma eficazmente.
É portanto imperativo que os bons cientistas aprendam a comunicar a ciência que fazem, para que a opinião pública perceba a diferença entre o método científico e os métodos empregues pela auto-denominada "ciência alternativa".
Para quem não sabe o que é a homeopatia vou tentar explicar rapidamente. A homeopatia baseia-se em dois postulados, sendo um deles o princípio dos similares (podemos curar uma doença com um produto que crie os mesmos sintomas da doença). A melhor explicação para este postulado que eu já vi é a de que todos "vibramos" com certas frequências e que a doença tem uma frequência de vibração própria e se o medicamento ingerido tiver a mesma frequência podemos, através da interferência destrutiva entre as duas vibrações, anular a sua vibração. O que eles não dizem é como é que se garante que as vibrações vão estar em anti-fase pois se estiverem em fase, em vez se o efeito diminuir é aumentado.
O outro postulado é que quanto mais diluído o produto estiver, mais forte é o efeito.
A maior parte dos medicamentos homeopáticos à venda nos estados unidos é rotulada de 30C o que quer dizer que foi diluída 30 vezes segundo o seguinte processo: primeiro dilui-se uma gota da substância que crie os mesmo sintomas da doença que se quer curar em 99 gotas de água e agita-se energicamente, depois pega-se numa gota dessa solução e dilui-se em 99 gotas de água, e assim sucessivamente até chegar às 30 diluições. Ora, isto é equivalente a uma diluição de uma parte do ingrediente activo em 100^30 (equivalente a 10^60 ou seja 1 seguído de 60 zeros) partes de água. Ou seja, a probabilidade de que encontremos uma única molécula do ingrediente activo na solução final é 10^-60 (0, ...sessenta zeros... 1), o que é bastante pequena não concordam?
Visto que nem os homeopatas conseguíram fechar os olhos a esta incongruência monumental, lá tiveram que escavar mais fundo esse buraco de pseudo-ciência em que se encontram e sugeriram a brilhante ideia de que a água terá uma "memória" das moléculas com que esteve em contacto. Se assim fosse, não seria o efeito das impurezas com que a água esteve em contacto desde o início dos tempos, um factor a ser levado em conta? Não sei como podem os homeopatas viver com o conhecimento de que cada vez que puxam o autoclismo estão a inserir ingredientes activos em todos os medicamentos que irão fazer futuramente.

Deixo-vos com um vídeo muito engraçado sobre os inimigos da razão, um programa do afamado bloguista e biólogo Richard Dawkins e, para não ser acusado de imparcialidade, deixo-vos com outro vídeo da "Dr" Charlene Werner que pelos vistos é doutorada pela "universidade" americana que tem o nome de International Quantum University for Integrative Medicine, que é mais um verdadeiro exemplo do poder que a pseudo-ciência tem vindo a ganhar nos últimos anos.