segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal Geek

Bem sei que não tenho estado muito presente (escolhi esta palavra por nos encontrarmos nesta altura do ano) mas um misto de trabalho e lazer tem-me impedido de escrever neste blog. Recomeço esta saga com propostas de prendas de natal que, tal como este blog, têm como intuito a divulgação de motes científicos e ao mesmo tempo a difusão de alguns sorrisos pelo mundo fora.
Em baixo encontram-se as minhas escolhas para este natal de 2008 e respectivos links para as lojas onde podem ser adquiridos. Divirtam-se vagueando pelos sites

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Será que somos extraterrestres?

Em 1969, um meteorito enorme caiu perto de Murchison, Vitoria na Austrália. As dezenas de kilogramas de rocha recolhidas têm sido sujeitas a testes até hoje e mostraram desde logo que este meteorito era de um tipo bastante importante para vários ramos da ciência pois tratava-se de um condrito carbonoso. Os meteoritos deste tipo contêm hidrocarbonetos complexos, e uma das teorias sobre o surgimento da vida na terra, afirma que as primeiras moléculas com complexidade suficiente para dar origem à vida na terra, foram trazidas por meteoritos deste tipo.
Desde a década de 70 que vários grupos de investigação têm mostrado que o meteorito está repleto de aminoácidos, que são os tijolos de moléculas biológicas mais complexas como as proteínas e bases de DNA.
No entanto os críticos perguntam se não será possível que os aminoácidos encontrados não estariam já na terra e se a amostra não terá sido contaminada totalmente aquando do embate com a superfície terrestre.
Muito recentemente, uma investigadora do Imperial College em Londres, de nome Zita Martins e os seus colaboradores, afirmam ter encontrado uma prova sólida a favor da origem extraterrestre destes condritos. O que os investigadores fizeram foi recolher piramidinas e purinas (bases nucleicas) e analisaram a quantidade de carbono-13 nestas bases.
Na terra, o isótopo de carbono-13 representa quase 1% do carbono total existente na terra, por outro lado os compostos do meteorito de Murchison contêm a elevada percentagem de 44% de carbono-13. Esta assinatura bastante distinta mostra que realmente estas moléculas terão tido origem extraterrestre.
Os melhores modelos que temos mostram que terá sido difícil (mas não impossível) a formação de moléculas com a complexidade de aminoácidos nas condições atmosféricas da terra nos seus primórdios. Como tal, de onde poderão ter vindo as moléculas que mais tarde deram origem a esta complexidade biológica?
Nessa altura (há cerca de 4 biliões de anos) estima-se que a terra era bombardeada por milhares de milhões de toneladas de meteoritos com condritos carbonosos, se isto não é uma boa hipótese não sei o que será...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Novidades da Phoenix

Depois de 24 sols (dias marcianos) a sonda phoenix já movimenta o seu braço robótico perfeitamente à vontade no local de aterragem. Os investigadores da Universidade de Tucson no Arizona pensam ter encontrado gelo alguns centímetros abaixo da superfície marciana. Mesmo sem terem analisado ainda essas amostras, existem algumas evidências de que os detritos esbranquiçados revolvidos pelo braço mecânico, possam tratar-se de bocados de gelo. Primeiro pensou-se que esses sedimentos de cor branca pudessem ser alguma forma de sal mas, algumas fotos tiradas nos dias seguintes mostram que o tamanho dos detritos brancos diminuiu consideravelmente, o que leva que se possa concluir tratarem-se de bocados de gelo que derreteram parcialmente com o calor do sol.
Os cientistas esperam, nos próximos dias, poder dizer com toda a certeza se realmente se trata de água no estado sólido ou se se trata de outra coisa.
O que acho fantástico é o facto de, com a tecnologia que temos a orbitar o planeta vermelho, podermos concluir com bastante certeza, que o sítio escolhido para pousar a phoenix teria gelo alguns centímetros abaixo da superfície. E agora que já lá estamos tudo parece confirmar-se.
É caso para dizer "Ciência, funciona mesmo!" ou então num tom mais calão como no desenho abaixo.


quarta-feira, 18 de junho de 2008

The Amazing Randi

Se já não pertencerem à geração pokemon, talvez se lembrem de um programa que dava na RTP1 (antes de existirem os canais privados), em que várias pessoas que afirmavam ter poderes psíquicos ou paranormais, eram desafiados a mostrar as suas habilidades perante todos os espectadores. As experiências eram normalmente planeadas de comum acordo entre o apresentador e o suposto médium (poderiam ter escolhido uma palavra melhor para os possuidores de tamanhas habilidades).
O apresentador de que estou naturalmente a falar é o fantástico James Randi.
Este arrasador de mitos e vigaristas é das pessoas mais activas na educação da comunidade mundial, no que toca à ingenuidade com que tendemos a acreditar em coisas que não percebemos.
Um dos seus feitos mais divulgado foi o desmascarar do pretenso psíquico Uri Geller em directo no Tonight Show de Johnny Carson quando, depois de perceber os truques que Uri Geller utilizava nos seus actos, montou experiências que não poderiam ser efectuadas recorrendo aos truques subtis que o vigarista utilizava. Como não podia deixar de ser, vendo-se encurralado e não querendo arriscar o falhanço perante milhões de espectadores, o nervoso Geller acabou por dizer que não estava a sentir a força naquele momento, o que o impedia de conseguir realizar os feitos que anunciava ser capaz.
Podem ver em baixo o vídeo de James Randi a falar disto mesmo.

Desde 1963, a fundação criada por Randi, JREF (James Randi Educational Foundation), oferece um milhão de dólares como prémio de um desafio feito a todos os autoproclamados psíquicos. Todos aqueles que dizem conseguir efectuar coisas extraordinárias podem concorrer a este prémio, sendo que terão que passar primeiro por um teste preliminar simples e depois serão então sujeitos a uma bateria de testes. Até hoje ninguém conseguiu passar dos testes preliminares.
Alguns de vocês poderão estar a pensar "eu não acredito nestas pessoas e qualquer um que acredite é ignorante e como tal nem me vou dar ao trabalho de expor estes vigaristas porque são inofensivos"! Este tipo de pensamento é muito comum, e tende a ser o mais adoptado por pessoas em todo o mundo, no entanto baseia-se no facto de que para além de fazer as pessoas acreditar em coisas erradas, nada de mal advém destes espectáculos de variedades. Ora, este argumento está claramente errado, porque não só estes truques de ilusionismo distorcem a mente dos menos preparados, mas podem inclusive alterar a vida das pessoas de maneiras que não podemos começar a imaginar. Um exemplo gritante é o caso da médium americana Sylvia Browne, que para além de cobrar aos seus clientes a módica quantia de 700 doláres por hora (acho que estou na profissão errada) para lhes fornecer informações sobre os seus familiares falecidos, dizia ajudar a polícia a desvendar casos de rapto e homicídio.
O caso mais conhecido, apresentado na CNN no programa Anderson Cooper 360, é o do rapto do jovem Shawn Hornbeck, que foi encontrado vários anos após o rapto e depois de num outro programa de televisão, a psíquica Sylvia Browne ter afirmado aos pais de Shawn que este se encontrava morto e que sabia inclusive a localização do seu corpo. As suas alegações fizeram com que na altura as buscas policiais tenham sido redireccionadas para um local diferente daquele onde se pensava ter ocorrido o rapto. Podem ver um excerto deste programa no vídeo abaixo.

Se ainda pensam que nada devemos fazer quando vemos todos os dias, auto proclamados doutores em ciências ocultas, a entrar em nossas casas através dos programas da manhã de TODOS os canais portugueses, então não sei que escreva mais!
E para os que pensam que a astrologia tem algum fundo de verdade, só porque está tão difundida, vejam mais um pequeno vídeo muito engraçado sobre o desmascarar dos horóscopos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A Inteligência dos Corvos

A construção de ferramentas e o seu uso para resolver problemas nunca vistos até então é uma habilidade que normalmente só se reconhece aos humanos e a alguns primatas, e está muitas vezes associado à noção de inteligência.
A adaptabilidade a novas realidades e a capacidade de aprender observando são das características que fazem com que os animais outrora selvagens possam sobreviver no meio citadino e assim desafiar a extinção por falta de habitats. Sabemos que os corvos são uma espécie que prospera em ambientes onde existam humanos, e começamos agora a perceber que, muitas das vezes, estes dependem dos nossos hábitos e idiossincrasias para sobreviver. No entanto, a nossa resposta emocional a este tipo de animais (onde também se incluem os ratos, as baratas, etc...) é de repulsa e sempre pensando em como nos livrar desta simbiose que consideramos ser uma praga.
Cientistas têm vindo a ponderar sobre estes assuntos e a tentar fazer com que esta ligação possa ser proveitosa para ambas as espécies, e devido à inteligência e adaptabilidade dos corvos já existem maneiras de tirar proveito desta simbiose. no vídeo abaixo podem ver uma palestra sobre este problema e como, inteligentemente, usar as capacidades das nossas amigas aves negras. (não tem legendas em português)

Se quiserem aprender mais sobre esta investigação podem ir aqui.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A fotografia da HiRiSe acabou de ficar ainda melhor!!

No post anterior mostrei a espetacular foto, tirada pela câmara HiRiSe, à entrada da sonda Phoenix na atmosfera marciana. O que faltou foi inserir a foto, que corresponde a uma peça num mosaico gigante de pequenas fotografias, no seu contexto global. Hoje a equipa responsável pela HiRiSe montou o puzzle de imagens, que foram enviadas juntamente com a da phoenix e do seu páraquedas, e observaram esta imagem extraordinária.Não sei como é que vocês reagiram mas o meu queixo caiu no chão depois de ver esta foto!
A cratera que se encontra como fundo dá pelo nome de Heimdall e tem cerca de 10km de diâmetro. A fotografia foi tirada cerca de 20 segundos depois de o páraquedas da phoenix ter aberto quando se encontrava a cerca de 8-10 km da superfície. Embora a sonda pareça estar a dirigir-se para a cratera, o seu local de aterragem (amartagem) foi bem longe desta.
Só tenho pena que o saudoso Carl Sagan não esteja vivo para ver esta imagem.

terça-feira, 27 de maio de 2008

A Phoenix já amartou!!!

Como não podia deixar de ser, tenho que escrever aqui sobre o que considero ser um dos maiores feitos de engenharia e ciência dos nossos tempos. A sonda Phoenix, cujo nome invoca as anteriores sondas perdidas em missões similares, amartou neste domingo passado, 25 de Maio, no pólo norte marciano.
Esta operação, descrita pelo administrador da Nasa Michael Griffin como um golfista fazer um "hole-in-one" dando a tacada nos Estados Unidos e encontrando-se o buraco na Austrália (com a vantagem de o buraco não se mexer), é um feito extraordinário, principalmente se pensarmos que até agora, menos de metade das sondas que tentaram aterrar em marte (amartar será mais correcto) foram bem sucedidas. Com o sucesso desta operação ficamos exactamente com 50% de amartagens bem sucedidas.
A parte mais crítica de toda a viagem, obviamente, é a entrada da sonda na atmosfera de Marte, quando tem que desacelerar de aproximadamente 20000 Km/h para zero. Esta entrada na atmosfera e consequente amartagem, leva aproximadamente 7 minutos que foram carinhosamente apelidados de "7 minutos de terror". O tempo que a luz demora a chegar desde marte à terra (varia conforme a distância a que marte se encontra de nós) é de aproximadamente 10 minutos, o que significa que quando começámos a receber o sinal já o destino da sonda estava traçado, portanto nada há a fazer senão fornecer-lhe boas ferramentas para que a sonda se desenrasque sozinha (em bom português).
Em vez de descrever mais pormenores da construção da sonda, deixo-vos com um pequeno trailer feito pela Nasa sobre estes 7 minutos de terror. Note-se o espírito de Hollywood com que foi filmado, parece que finalmente os cientistas e engenheiros perceberam que também é necessário algum marketing para que a comunidade leiga também se entusiasme com estes feitos extraordinários, que aos olhos dos não interessados podem passar por rotineiros.

E agora vejam este vídeo que mostra uma montagem, com partes da animação que puderam ver no vídeo acima juntamente com as reacções no centro de controlo do JPL, e onde se pode ver as reacções em tempo real às informações que a phoenix ia transmitindo enquanto passava por todo o processo de amartagem. Imaginem a adrenalina que deve estar a correr nas veias de todos os colaboradores desta missão neste momento, depois de vários anos de trabalho árduo, chegado o momento do tudo ou nada.

E para acabar em beleza deixo-vos com uma imagem que considero como sendo uma das fotografias mais espetaculares que nós enquanto seres humanos já tirámos. Esta fotografia foi tirada pela câmara HiRISE a bordo da Mars Reconnaissance Orbiter e mostra a entrada na atmosfera da sonda phoenix!!!!!!
Sim isso mesmo que vocês leram, temos uma fotografia da phoenix e do seu páraquedas enquanto voavam pelos céus marcianos. Até dá para ver os cabos que prendem a sonda e o escudo térmico ao páraquedas, fantástico não é?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Teste de "Geekiness"

Sempre achei que uma boa maneira de testar o quão "geek" estou a ficar, é ver a minha reacção quando leio algumas piadas de matemática e/ou física. Hoje deparei-me com duas piadas de matemática e a minha reacção instantânea foi de riso, e o mais grave é que comecei logo a fazer comentários engraçados (pelos menos no meu ponto de vista) sobre as piadas em si. Tendo em conta a minha reacção penso que já não há esperança para mim, caí profundamente no fosso abissal do estereótipo do cientista. Já só me faltam os óculos.
Para ver se estou só ou se afinal existem outros que se querem juntar a mim nesta filosofia de vida, vou meter aqui as piadas.
Esta foi a que mais gostei, não estava à espera de uma piada complexa (e não páro!!!!!aaaaahhhh)
Esta seguinte também achei bastante engraçada.
Se tiverem piadas engraçadas sobre ciência por favor sintam-se à vontade para partilhar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Embuste Lunar, os Cientistas Mações e Outras Parvoíces

Não tenho tido muito tempo para escrever, mas hoje vi um post no Bad Astronomy Blog tão bom (ou tão mau, depende do ponto de vista) que não pude deixar de partilhar com vocês. Se tiverem 10 minutos vejam este vídeo porque vale a pena. Este senhor, que pelos vistos é um grande adepto das teorias da conspiração, leva a arte de distorcer factos e tirar conclusões erradas ao seu expoente máximo. Neste vídeo ele tenta fazer uma ligação entre o LHC (Large Hadron Collider, ver posts aqui e aqui) e a criação de um buraco na cintura de Van Allen que trará para a terra os anjos caídos que se encontram no planeta Nibiru, portais para outras dimensões, raios cósmicos e, claro, como tudo isto está previsto na bíblia.



A única coisa boa que tiramos daqui é que desta forma sabemos que o desenvolvimento de processos "user-friendly" para a tecnologia (nomeadamente câmaras de vídeo e computadores) está realmente a funcionar bem, pois de outra maneira não consigo perceber como este senhor poderia ter filmado esta obra de arte tal é a sua ignorância no que toca à ciência.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A vida em Slow Motion

Certamente já imaginaram como seria poder abrandar o tempo e ver como é o mundo à nossa volta algumas ordens de grandeza mais lento.
Através de câmaras de vídeo que conseguem processar até 16 000 imagens por segundo podemos ver acções comuns cuja beleza nos escapa por não conseguirmos observar os acontecimentos tão rapidamente como desejaríamos. Se os nossos cérebros fossem capazes de tal feito não teríamos qualquer dificuldade em compreender a dinâmica clássica, bem como a dinâmica dos fluídos. Saberíamos sem qualquer sombra de dúvidas que as gotas da chuva não se parecem com o desenho de uma lágrima como são usualmente representadas, mas sim com esferas (se forem suficientemente pequenas) ou com a forma de um hamburger (se forem maiores).
Podem ver nos filmes seguintes algumas das imagens espectaculares que se conseguem obter, quando filmamos o mundo em câmara lenta.





sexta-feira, 9 de maio de 2008

Imagem do vulcão Chaitén

Após cerca de 9000 anos de inactividade, o vulcão Chaitén, localizado no sul do Chile, na América do sul, entrou em erupção no passado dia 2 de Maio. A população da cidade de chaitén, que se encontra a apenas 10 km da cratera do vulcão, teve que ser evacuada e outras cidades viram as suas reservas de água envenenadas devido à erupção. Os esforços da protecção civil chilena funcionaram extremamente bem e como consequência há apenas uma morte a lamentar. A nuvem de cinzas elevou-se a 15 km de altura, criando assim um caminho de menor resistência para os relâmpagos da tempestade que ocorreu nessa noite, proporcionando-nos assim imagens de rara beleza como esta.
(Crédito da foto - UPI, Carlos Gutierrez)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pangea Day

É já no dia 10 de Maio das 19:00 às 23:00 (hora portuguesa) que vai decorrer o dia da Pangeia, um dia em que todo o mundo estará ligado através das imagens. Vão ser quatro horas em que serão exibidos 24 filmes escolhidos através de uma competição internacional em que participaram mais de 2500 pessoas de mais de 100 países. Este festival será transmitido em directo, em 7 línguas diferentes e de 6 países distintos em simultâneo, para milhões de pessoas em todo o mundo, através da televisão, da Internet e até de telemóveis.
Os locais escolhidos para serem os anfitriões desta festa mundial foram as cidades do Cairo, Kigali, Londres, Los Angeles, Mumbai e o Rio de Janeiro e a cerimónia será legendada em Árabe, Inglês, Francês, Alemão, Hindi, Português e Espanhol.
Esta ideia surgiu da vencedora do prémio TED em 2006, a realizadora de documentários Jehane Noujaim cujo desejo era criar um festival cinéfilo que cruzasse todas a miríade de culturas diferentes que compõem a humanidade. Seria então, segundo a sua visão, apresentada uma maratona de filmes, amadores e profissionais, cujo objectivo principal era dar uma visão do mundo vista pelos olhos do "Outro". Com esta iniciativa, Jehane Noujaim espera que pessoas de todos os países do mundo consigam esquecer os estereótipos e identificar-se com as pessoas de outros países que por vezes estão tão perto geograficamente mas de cujos costumes nada conhecemos.

Por todo o mundo, milhares de pessoas estão a organizar encontros que podem ir desde festas públicas, como a organizada pelo IST, até pequenos encontros com amigos cujo objectivo é ver o mundo através de outros olhos.

Podem ver nos vídeos abaixo alguns dos teasers criados para este festival cujo tema é "Ver o mundo através dos olhos de outra pessoa"





E como não podia deixar de ser, aqui fica a opinião de um cientista, neste caso o físico da Universidade de Manchester Brian Cox, sobre o dia da Pangeia

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Aprender Física Brincando

O saudoso físico Richard Feynman, numa das suas biografias conta-nos como o seu pai, que, não sendo cientista, era no entanto um apreciador do estudo das ciências naturais, o incentivava a encontrar os padrões e a lógica por detrás de qualquer actividade banal.
Uma das histórias que ele nos conta passou-se quando Feynman ainda era bebé. Muitas vezes ele e o pai brincavam, colocando vários tijolos em pé uns atrás dos outros como por vezes fazemos com peças de dominó, e empurrando o primeiro para ver as peças caindo em cascata. Depois de conseguir prender a atenção do filho com este simples jogo, o seu pai começava então a colocar uma peça de uma cor seguida de uma peça de outra cor seguida de outra peça com a cor da primeira e assim sucessivamente. Deste modo Feynman era obrigado a entender o padrão pois o seu pai não o deixava inserir peças que não obedecessem ao padrão escolhido (mesmo que por vezes a mãe pensasse que isso era um tipo de tortura que estava a ser feita ao pobre rapaz).
A jogar este e outros jogos deste tipo, Feynman estava a aprender regras matemáticas elementares sem que se apercebesse.
Um dos principais problemas apontados no ensino da física moderna é o facto de os nossos cérebros terem evoluído de modo a compreender o que se passa no mundo à nossa escala. Nós olhamos para uma pedra e temos a percepção que a rocha é dura e impenetrável mesmo sabendo que ela consiste essencialmente de espaço vazio, no entanto se fôssemos do tamanho de um neutrino, seria lógico para nós que a pedra era tão "transparente" como o ar que nos rodeia. Se nos deslocássemos a velocidades perto da velocidade da luz, não teríamos qualquer dificuldade em entender a contracção do espaço e a dilatação do tempo. Ou seja, se desde novos conseguirmos de alguma forma visualizar o mundo subatómico, não deveremos ter tanta dificuldade em aprender e perceber os conceitos que regem a mecânica quântica. O mesmo se passa com a relatividade, geral e restrita. Enquanto não existem meios tecnológicos para que isto aconteça, é bom saber que já há pessoas a desenvolver tecnologia com este intuito, mesmo que seja só para efeitos que ocorrem à nossa escala. Uma das ferramentas que veio ajudar imenso na compreensão da física à nossa escala foi o computador e os jogos que neles podemos jogar. Nos jogos modernos existe cada vez mais uma preocupação em fazer as interacções do jogador com os elementos presentes no ecrã parecerem o mais reais possível. Para isto, os elementos têm que seguir as leis da física pois, de outro modo, o jogador apercebe-se que algo está estranho mesmo sem saber o quê. É o equivalente a ver uma pintura em que as sombras não estejam correctas.
Podem ver no vídeo abaixo uma demonstração de um destes programas pedagógicos chamado Crayon Physics Deluxe.
Quantos futuros físicos não estarão neste momento a tirar partido de este jogo tão interessante?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Homeopatia ou a Banha da Cobra

Há pouco tempo deparei-me com um post no blog De Rerum Natura sobre a homeopatia e as pseudo-ciências. Sendo este um tema que me toca especialmente, pois para além de ser investigador tenho um especial interesse no ensino, na divulgação científica e na opinião pública da ciência, fui informar-me acerca deste movimento em Portugal.
Ao efectuar uma pesquisa na internet dei de caras com duas associações portuguesas de homeopatia, a sociedade homeopática de portugal e a associação portuguesa de homeopatia. Após uma vistoria geral dos sites encontrei algumas zonas que faziam ligação para artigos sobre a homeopatia, e como esperava, em nenhum deles se encontram referências a artigos publicados em revistas com "peer review" (ou revisão por pares). Daqui se depreende que estas práticas holísticas de medicina alternativa não têm nenhum fundo científico e que as tentativas dos seus praticantes de utilizar discurso pseudo-científico na apresentação do método ao público, descambam num discurso vazio de conteúdo mas que se agarra ao sucesso do método científico, que tem sido provado vezes sem conta nos últimos 300 anos. Para os leigos em ciência deve ser complicado distinguir um discurso verdadeiramente científico de um discurso em que o uso de jargão científico se sobrepõe à objectividade da ideia apresentada, e estes vendedores da banha da cobra utilizam essa arma eficazmente.
É portanto imperativo que os bons cientistas aprendam a comunicar a ciência que fazem, para que a opinião pública perceba a diferença entre o método científico e os métodos empregues pela auto-denominada "ciência alternativa".
Para quem não sabe o que é a homeopatia vou tentar explicar rapidamente. A homeopatia baseia-se em dois postulados, sendo um deles o princípio dos similares (podemos curar uma doença com um produto que crie os mesmos sintomas da doença). A melhor explicação para este postulado que eu já vi é a de que todos "vibramos" com certas frequências e que a doença tem uma frequência de vibração própria e se o medicamento ingerido tiver a mesma frequência podemos, através da interferência destrutiva entre as duas vibrações, anular a sua vibração. O que eles não dizem é como é que se garante que as vibrações vão estar em anti-fase pois se estiverem em fase, em vez se o efeito diminuir é aumentado.
O outro postulado é que quanto mais diluído o produto estiver, mais forte é o efeito.
A maior parte dos medicamentos homeopáticos à venda nos estados unidos é rotulada de 30C o que quer dizer que foi diluída 30 vezes segundo o seguinte processo: primeiro dilui-se uma gota da substância que crie os mesmo sintomas da doença que se quer curar em 99 gotas de água e agita-se energicamente, depois pega-se numa gota dessa solução e dilui-se em 99 gotas de água, e assim sucessivamente até chegar às 30 diluições. Ora, isto é equivalente a uma diluição de uma parte do ingrediente activo em 100^30 (equivalente a 10^60 ou seja 1 seguído de 60 zeros) partes de água. Ou seja, a probabilidade de que encontremos uma única molécula do ingrediente activo na solução final é 10^-60 (0, ...sessenta zeros... 1), o que é bastante pequena não concordam?
Visto que nem os homeopatas conseguíram fechar os olhos a esta incongruência monumental, lá tiveram que escavar mais fundo esse buraco de pseudo-ciência em que se encontram e sugeriram a brilhante ideia de que a água terá uma "memória" das moléculas com que esteve em contacto. Se assim fosse, não seria o efeito das impurezas com que a água esteve em contacto desde o início dos tempos, um factor a ser levado em conta? Não sei como podem os homeopatas viver com o conhecimento de que cada vez que puxam o autoclismo estão a inserir ingredientes activos em todos os medicamentos que irão fazer futuramente.

Deixo-vos com um vídeo muito engraçado sobre os inimigos da razão, um programa do afamado bloguista e biólogo Richard Dawkins e, para não ser acusado de imparcialidade, deixo-vos com outro vídeo da "Dr" Charlene Werner que pelos vistos é doutorada pela "universidade" americana que tem o nome de International Quantum University for Integrative Medicine, que é mais um verdadeiro exemplo do poder que a pseudo-ciência tem vindo a ganhar nos últimos anos.




segunda-feira, 28 de abril de 2008

LHC parte II

Tal como tinha prometido, vou tentar dar-vos a minha opinião sobre a discussão que tem existido em torno da entrada em funcionamento do Large Hadron Collider (LHC) já este ano no CERN.
As questões de segurança levantadas por leigos e cientistas levaram a grandes debates na blogosfera e na comunicação social em geral. Existe uma preocupação crescente sobre as consequências hipotéticas das experiências de colisões, a energias nunca antes exploradas, e no caso do LHC, segundo os argumentos dos arautos da desgraça, podem ser criados micro buracos negros ou partículas com propriedades estranhas denominadas "strangelets" que por sua vez poderiam resultar num cenário apocalíptico.
É sempre complicado fazer afirmações com graus de incerteza muito baixo quando estamos a tratar de fazer investigação na vanguarda dos modelos teóricos existentes, mas segundo cálculos efectuados utilizando as teorias aceites pela comunidade científica, para criar um buraco negro com a dimensão do comprimento de Planck (10^-35 metros), utilizando a tecnologia de aceleradores actual, necessitaríamos de um acelerador circular com o tamanho da nossa galáxia. Se supusermos serem reais algumas extensões do modelo standard da teoria das partículas e teoria de cordas que propõem a existência de dimensões extra, poderíamos observar a criação de micro buracos negros no LHC com uma taxa de 1 por segundo. No entanto, e segundo a teoria de Hawking estes buracos negros evaporariam através da emissão de fotões gama em apenas 10^-42 segundos. De modo a que o buraco negro pudesse viver tempo suficiente para começar a absorver matéria teria que ser muitíssimo maior. O cientista Cliff Pickover, autor do livro Black Holes: A Traveler's Guide mostra no seu livro que um buraco negro com a massa do monte Everest teria apenas 10^-15 metros de diâmetro, o que corresponde aproximadamente ao tamanho de um núcleo atómico.
Um dos argumentos mais forte a favor da inocuidade do LHC prende-se com o facto de estarmos constantemente a ser bombardeados por partículas (raios cósmicos) com muito mais energia do que a que será acessível no LHC e nunca termos observado nenhum micro buraco negro nem outro tipo de fenómeno estranho. No entanto há quem diga que, devido à enorme velocidade com que estes raios cósmicos colidem com a nossa atmosfera, os alegados buracos negros e strangelets poderiam rapidamente sair do campo gravitacional da terra e daí nunca termos observado semelhantes fenómenos. Por outro lado, se eventualmente estes fenómenos ocorrerem no acelerador terrestre, a sua velocidade poderá ser menor que a velocidade de escape e estes ficariam inevitavelmente presos em órbita em redor da terra.

Para mim, embora seja óbvio que não temos razões para nos preocuparmos com estes cenários apocalípticos, acho muito bom que este tipo de discussão esteja a decorrer nos meios de comunicação social para o grande público. É uma oportunidade para que a comunidade científica aprenda a comunicar a ciência porque, embora a resposta mais simples seja dizer simplesmente "Não se preocupem e confiem em nós porque sabemos o que estamos a fazer", somos nós os primeiros a dizer que ninguém deve aceitar respostas baseadas apenas em fé, o que torna esta posição perante as dúvidas populares uma hipocrisia gritante. Esta discussão, no entanto, só poderá existir se houver do outro lado alguma vontade de realmente aprender a linguagem e as linhas de pensamento por detrás das teorias físicas, senão acabamos por cair numa discussão vazia de conteúdo que só leva a que haja um distanciamento ainda maior entre a ciência e as pessoas.
Para acabar com um tom menos pesado, deixo-vos com um apontamento humorístico publicado no blog Cosmic Variance em que o cosmólogo Sean Carroll pergunta aos leitores "O que responder quando nos perguntam se o LHC vai acabar com a terra" e embora a sua resposta seja um rotundo "NÃO" um dos seus leitores responde o seguinte:

"Claro que não, os cálculos são extremamente precisos na sua indicação que será TODO O UNIVERSO a ser destruído. Deixa de ser tão antropocêntrico!
No entanto ainda está em aberto se o Multiverso será destruído também."

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dia da Terra

Hoje celebra-se o dia da Terra. Este dia serve para inspirar pensamentos e acções no que toca à apreciação do complexo e frágil ambiente terrestre.
Nos finais dos anos 60, a crescente preocupação com os assuntos do ambiente levaram a que o senador americano Gaylord Nelson do Wisconsin, numa conferência em Washington, declarasse que na primavera de 1970 se deveria organizar uma manifestação pública sobre os problemas do ambiente. O objectivo desta manifestação era meter este assunto na agenda política nacional, e embora o senador Nelson pensasse que era uma luta perdida o acto funcionou tão bem que o dia 22 de Abril passou a ser considerado o dia mundial da Terra.
Tendo em conta que os Estados Unidos da América ainda não ratificaram o tratado de Quioto, parece-me que precisamos de outro senador Nelson para voltar a meter este assunto na agenda. Ao que parece tanto o senador Obama como a senadora Clinton estão empenhados em tratar deste assunto com a maior urgência, por isso resta-nos esperar que um dos democratas ganhe as próximas eleições ou então teremos que seguir o caminho proposto por Nelson e manifestar-mo-nos contra o abuso do ambiente deste nosso planeta que, para já, é o único que temos.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

LHC parte I

Nos últimos tempos tem vindo a ser discutida, na maioria dos órgãos de comunicação social, a questão da segurança no que toca à entrada em funcionamento do LHC (Large Hadron Collider) agendada para daqui a poucos meses.
Para quem não sabe, o LHC é um acelerador de partículas situado no CERN em Genebra, Suiça. O acelerador em forma de anel encontra-se debaixo da terra a uma profundidade que varia entre os 50 e os 175 metros e tem 27 quilómetros de diâmetro. Ao longo do anel vão estar localizadas várias experiências cujos objectivos serão desde o estudo de interacções de iões altamente carregados até à procura do evasivo bosão de Higgs e outros fenómenos como a procura de dimensões extra, procura de candidatos a matéria negra e quem sabe a criação de micro buracos negros.
Para os interessados, aqui vão alguns factos sobre o LHC e uma das experiências mais importantes que decorrerão lá, o ATLAS.
  • Os protões que viajarão no LHC irão deslocar-se a uma velocidade de 99.9999991% da velocidade da luz.
  • Os protões percorrerão os 27 km do anel 11000 vezes por segundo.
  • O LHC gera 7 vezes mais energia do que qualquer acelerador existente até então.
  • A temperatura gerada no local de colisão corresponde à temperatura do universo, um bilionésimo de segundo após o Big Bang, o que corresponde a 100 000 vezes a temperatura do sol.
  • O detector do ATLAS pesa tanto como 100 Boeing 747 juntos.
  • O detector tem metade do tamanho da catedral de Notre Dame.
  • A informação proveniente do detector será de 3200 Terabytes, o que corresponde a 7 km de CD-Rom's empilhados.
  • O LHC terá 3000 km de cabos eléctricos e 122 km de fio supercondutor nos magnetos.
  • Trabalharão nesta experiência 2100 cientistas de 37 países diferentes e 167 universidades e laboratórios espalhados pelo mundo.
Deixarei para outro post a discussão sobre os assuntos de segurança, entretanto fiquem com um pequeno vídeo sobre a construção do detector.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mapa mundo

Há pouco tempo deparei-me com um site que contém mapas do mundo onde podemos ver representadas diversas informações, como a população, a riqueza, o número de nascimentos, a educação etc...
Mas o que torna este mapa especial é que, em vez de mostrar essa informação através de uma legenda como na maioria, as áreas dos países são redimensionadas de acordo com o objecto de estudo. Por exemplo, se quisermos ver apenas a área relativa de cada país obtemos o mapa que tão bem conhecemos










Se no entanto estivermos interessados em saber como está distribuída a população mundial o resultado será representado da seguinte forma.










Obviamente, uma das primeiras informações que tentei obter foi o número de artigos científicos publicados por ano, e deparei-me com o facto estranho de, aparentemente, quase toda a ciência ser feita no hemisfério norte deste nosso planeta.










Para além da Austrália, um pouco do Brasil e África do Sul, aparentemente, não existem muitas publicações em revistas científicas nas terras abaixo do equador. No entanto podemos observar noutro mapa que, com a excepção de África, esta tendência estará a inverter-se. Representando o crescimento do número de publicações anuais em relação ao mesmo, 10 anos antes, podemos observar que aos poucos o hemisfério sul tem vindo a crescer cientificamente.










Resta-nos tentar ajudar os nossos companheiros africanos para que sigam a tendência dos restantes continentes. Partilhando o sentimento com o meu colega de profissão Neil Turok, está na altura de fornecer aos africanos as ferramentas para que eles possam sair pelas próprias mãos do estado caótico que centenas de anos de guerras e desunião criaram.
Quem sabe se daqui a uns anos não estaremos a celebrar o aparecimento de um "Einstein" africano?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Porquê ler blogs na internet

Embora possam achar que ler blogs deste tipo na internet é uma perda de tempo, e que o autor devia aplicar o tempo que passa a escrever e a pensar no que escrever em coisas realmente úteis (como trabalhar por exemplo), não subestimem o poder da procrastinação. As probabilidades de que, no tempo que se supõe perdido a navegar na internet, se passe eventualmente por alguma informação que será útil no seu futuro, não é muita ... mas a boa notícia é que é proporcional ao número de horas que se passa a procrastinar. Por isso, se gosta da emoção de jogar, passe mais tempo a ler este e outros blogs sobre os temas que lhe aprouver, quem sabe se na hora em que mais precisar, essa informação não o irá ajudar!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Anti-Hidrogénio

Através do romance de Dan Brown, Anjos e Demónios, o conceito de antimatéria ficou bastante conhecido do público em geral. Nesse livro, o herói corre contra o tempo para tentar salvar o vaticano de um ataque que envolve o roubo de um suposto reservatório contendo antimatéria de um laboratório do CERN. Como sabemos, quando uma partícula encontra a sua correspondente antipartícula, dá-se o fenómeno de aniquilação que é entre 100 a 10 000 vezes mais energético do que as reacções nucleares de fissão e fusão.
O que o autor não diz é que, devido à dificuldade de criar antimatéria em laboratório, se juntarmos toda a antimatéria criada em todos os laboratórios da terra e a aniquilarmos, a energia resultante não é suficiente para aquecer uma chávena de chá, e muito menos para explodir com a basílica de São Pedro.
Embora já seja relativamente simples criar feixes de antiprotões, não é nada fácil reduzir-lhes a energia de modo a conseguir que se combinem com antielectrões para criar antiátomos. Visto que o átomo mais simples que conhecemos é o hidrogénio (um protão com um electrão a orbitá-lo), o primeiro candidato a antiátomo é naturalmente o antihidrogénio, e pela primeira vez foi observada a sua criação em laboratório pelos físicos de Harvard, Gabrielse e colaboradores e reportada no fascículo deste mês da Physical Review Letters. Devido à dificuldade de arrefecer os antiprotões provenientes dos feixes de alta energia produzidos no CERN, alguns cientistas pensaram ser tecnicamente impossível parar os antiprotões e antielectrões durante tempo suficiente para que se pudesse criar antihidrogénio, mas Gabrielse e os membros da colaboração ATRAP (Antiproton Trap) que está em funcionamento no CERN, provaram que afinal é possível. Embora ainda não tenham conseguído isolar nenhum átomo de antihidrogénio, eles mostram neste artigo que não há dúvida de que estes estão a ser criados.

Quem sabe se estamos perto de ter uma nave movida a antimatéria como a enterprise da série Star Trek?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Efeito Casimir Parte I

Vamos fazer uma experiência mental!
O que acontece se tivermos duas placas metálicas não carregadas, situadas bastante perto uma da outra (alguns micrometros) no vácuo?
Se utilizarmos qualquer teoria clássica veremos que não deverá existir nenhuma força entre as placas, para além da força gravítica que é suficientemente pequena para ser desprezável.
No entanto, segundo as teorias quânticas de campo, até o espaço vazio está cheio de fotões virtuais que constituem as oscilações do vazio, e como tudo na teoria quântica, também estes fotões terão que ser quantizados. A presença de duas placas junto uma da outra, cria condições de fronteira para a quantização do campo de fotões virtuais que se situam entre as placas.
O que acontece então é que, devido a essas condições fronteira, o espectro de energias possíveis de existir no meio das placas torna-se discreto, tal como no caso de uma partícula num poço de potencial infinito.
Isto significa que há uma pressão maior do lado de fora das placas do que do lado de dentro, o que resulta numa força atractiva entre as placas que varia com o inverso da quarta potência da distância entre as placas. Devido a esta variação com 1/(r^4) só a distâncias muito pequenas é que este efeito é sentido, sendo que a 10 nanómetros (mais ou menos 100 distâncias atómicas) o efeito casimir produz uma pressão de cerca de uma atmosfera nas placas.
O primeiro teste experimental deste efeito foi efectuado em 1958 por Marcus Sparnaay enquanto trabalhava na Siemens em Eindhoven, apenas 10 anos depois do físico holandês Hendrik B. G. Casimir ter proposto esta força, mas os resultados experimentais apresentavam uma incerteza tão grande que nem se conseguía concluir se a força era atractiva ou repulsiva. Finalmente, em 1997 e em 2001 experiências com excelente precisão foram efectuadas no laboratório nacional de Los Alamos e na Universidade de Pádua, respectivamente, e provaram a existência desta força misteriosa.
Existem bastantes implicações práticas, principalmente no que toca à construção de nanostruturas e circuitos miniaturizados, devido à existência deste efeito, mas deixarei este tema para outro post.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Filas de trânsito

Já se devem ter questionado sobre a razão de existirem filas de trânsito mesmo quando não existe nenhuma causa aparente (acidentes, etc). Desde que comecei a estudar física que pensei que talvez se pudesse explicar os fenómenos do trânsito através de equações do tipo Navier-Stokes (talvez quando tiver mais tempo volte a este problema). Hoje descobri que não sou o único interessado em perceber como é que estas filas aparecem.
Cientistas japoneses tentaram recriar as condições em que são criadas filas de trânsito, e embora as suas conclusões sejam bastante superficiais, já dá para concluir que a maior parte das vezes é o nosso tempo de reacção o responsável pelas longas horas de espera no caminho para o trabalho.
Afinal nós não ficamos presos no trânsito, nós somos o trânsito!
Pelo lado positivo agora já tem mais uma desculpa para chegar atrasado, ficou preso numa onda de compressão.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Onda Curta

Com certeza já ouviram falar da criação de pulsos de luz extremamente curtos, da ordem das centenas de attosegundos (1 attosegundo = 0.000000000000000001 segundos ou seja 10^-18 segundos). Estes pulsos de luz contêm vários fotões e podem ser vistos como uma série de oscilações do campo electromagnético.
Cientistas em Harvard conseguíram produzir um pulso com uma duração de 65 femtosegundos (10^-15 s) mas que é constituído por um fotão apenas. Este fotão foi criado através do processo de "down conversion", em que um feixe laser, com um comprimento de onda de 415 nm, é feito passar através de um cristal especial e um dos fotões do feixe laser transforma-se em dois fotões com 830 nm cujo estado quântico se encontra entrançado "entangled".
Através da minimização dos efeitos da correlação quântica, os investigadores conseguíram obter fotões com excepcional qualidade e curta duração. Para além da duração de 65 femtosegundos o fotão tem o "comprimento" de cerca de 20 microns (10^-6 metros).

Um dos autores do trabalho, Peter Mosley, diz que esta experiência representa a primeira vez em que um pacote de ondas, tal como os vemos nos livros de texto de mecânica quântica, contendo um único quantum de energia, é produzido em laboratório. Poderá ler mais sobre este tema no artigo original que será publicado este mês, (Mosley et al., Physical Review Letters).

segunda-feira, 31 de março de 2008

Algoritmos Genéticos e Robots

Um algoritmo genético é, como o nome indica, um conjunto de procedimentos que seguem regras genéticas. A maior parte deste tipo de algoritmos funciona começando com um conjunto de partes de código mais ou menos aleatório e é recompensado por efectuar uma tarefa qualquer.
Por exemplo, se quisermos construir um modelo em computador de um robot que consiga andar para a frente a uma velocidade razoável, quanto melhor ele o fizer maior será a recompensa que obtém.
Depois de começarmos com um conjunto inicial de partes de código (ou no caso dos robots, de peças) começamos a utilizar as regras da selecção natural, onde a recompensa falada atrás é não extinguir o indivíduo, e onde, de geração para geração, vão sendo introduzidas mutações (alterações no código) nos vários indivíduos. A maior parte destas mutações não vai introduzir melhorias nos modelos, mas visto que estes "downgrades" dos indivíduos serão recompensados com a extinção desses mesmos indivíduos, o que sobra são os modelos que melhor efectuam a tarefa que escolhemos.
O sucesso destes algoritmos, para mim, é uma indicação clara de que não é preciso um designer sobrenatural para que a complexidade da vida na terra tenha explicação. A selecção natural é uma ferramenta perfeitamente ao alcance de tal tarefa.

No vídeo abaixo podemos ver um cientista, que para além de utilizar estes algoritmos para fazer modelos de robots em computador, constrói os próprios robots e utiliza variações deste tipo de algoritmos para dotar as máquinas da capacidade de terem noção do que elas próprias podem ou não fazer.

sexta-feira, 28 de março de 2008

O problema dos neutrinos solares

O neutrino é uma partícula elementar que não tem carga eléctrica e que, visto ser tão difícil de detectar, ganhou o nome de "partícula evasiva". A sua baixa massa e ausência de carga eléctrica faz com que, na sua viagem desde o sol, possam atravessar toda a terra sem que colidam com nenhuma partícula. Isto deve-se ao facto de os átomos serem essencialmente compostos por espaço vazio.
Os neutrinos vêm em 3 "sabores" diferentes, que estão ligados à forma como são criados através de decaimentos radioactivos e/ou reacções nucleares. Os 3 tipos de neutrinos são: neutrinos do electrão, neutrinos do muão e neutrinos do tauão. Cada um destes neutrinos tem o seu correspondente em antimatéria, denominado de antineutrino.

O problema dos neutrinos solares foi levantado nos finais dos anos 60 quando Raymond Davis e John Bahcall se propuseram a detectar o fluxo de um dado "sabor" de neutrinos provenientes de uma certa reacção nuclear no sol e detectaram apenas um terço do fluxo previsto pela teoria standard.

Depois de vários anos de estudo e de inclusivamente se pôr em causa o modelo standard, Bruno Pontecorvo previu que um efeito quântico poderia fazer com que um neutrino criado com um certo "sabor" poderia mais tarde vir a ser detectado com um "sabor" diferente. E previu também que a probabilidade de medir um certo sabor num neutrino varia periodicamente enquanto este se propaga. Esta oscilação de neutrinos e consequente resolução do problema dos neutrinos solares foi observada no detector SNO (ver imagem) através da medição do fluxo de neutrinos provenientes do sol durante o dia e durante a noite (à noite os neutrinos têm que atravessar toda a terra até chegar ao detector).
A oscilação de neutrinos implica que estes não tenham massa igual a zero como previsto originalmente pela teoria standard, pelo que o seu estudo tem bastante interesse, quer teórico quer experimental.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Sem dualismo

Bem sei que devemos sempre ver todos os assuntos de vários lados, mas o que fazer se as coisas só tiverem um lado?

Haverá quem diga que é impossível ou até anti-natural, mas o que é certo é que existem e até fazem bons presentes de natal ou aniversário.
Talvez estejam familiarizados com a faixa de moebius que é uma superfície só com um lado, com uma fronteira e que não é orientável. Esta superfície foi descoberta independentemente em 1858 pelos cientistas alemães August Ferdinand Moebius e Johann Benedict Listing. O que acontecerá se colarmos duas faixas de moebius lado a lado?

Vamos obter uma garrafa de Klein, que para além de ter apenas um lado, tem volume zero também. Agora podem perguntar-se, para que me serve uma garrafa com volume zero? A resposta é óbvia, para dar de prenda de aniversário ou natal a um qualquer matemático ou físico que conheça.

terça-feira, 25 de março de 2008

Ver o nosso cérebro em tempo real

A ressonância magnética nuclear (RMN) está neste momento bastante difundida, e quase toda a gente já ouviu falar da técnica e sabe para que serve.
O que provavelmente não sabem é que já é possível analisar os dados em poucos milisegundos o que torna acessível "observar" os nossos cérebros em tempo real. Através da ressonância magnética funcional podemos ver as zonas do nosso cérebro que estão a ser utilizadas quando pensamos, efectuamos qualquer movimento ou até quando um certo tipo de dor está activa.
As variações na imagem da RMN devem-se à dependência que a atenuação do sinal magnético tem, com a percentagem de oxigénio presente no sangue. Como a actividade neuronal causa um aumento da procura de oxigénio e o sistema vascular responde com o envio de mais hemoglobina oxigenada, a actividade neuronal é vista na imagem como um aumento do sinal.
Assim, e podendo observar em tempo real as zonas que certos movimentos/pensamentos/dor activam poderemos, com treino, aprender a alterar a própria estrutura do nosso cérebro.

Neste momento as aplicações clínicas estão viradas para a redução e controlo da dor crónica, mas um dos neurocientistas que está na vanguarda desta técnica, o Dr. Christopher deCharms pensa que poderemos já nesta geração treinar e construir a nossa mente tal como um ginasta treina o corpo.

No vídeo abaixo podem ver uma palestra bastante rápida sobre este tema na conferência anual do TED (Technology Entertainment and Design)

O menor anel de diamantes do mundo

Se estão a pensar "finalmente um anel para a minha namorada que consigo comprar" esqueçam.
Este anel, construído a partir de um diamante artificial na universidade de Melbourne, tem 5 microns de diâmetro e 300 nanometros de espessura.

O anel é um componente numa experiência desenhada para produzir e detectar fotões solitários.
Esta experiência está ligada à computação quântica, pois uma nova forma de produzir qubits utiliza a orientação do spin de um electrão desemparelhado que orbita uma "estranha" molécula no seio de um filme de diamante criado artificialmente. A molécula consiste num átomo de azoto, que se apresenta como uma impureza no filme, rodeado de todos os átomos de carbono que constituem a rede, e uma lacuna.
As vantagens da utilização desta "molécula" residem no facto de esta ser facilmente excitada ou polarizada através de luz laser. O tempo de vida da polarização desta estrutura pode ser tão elevado como um milisegundo, uma eternidade quando comparado com o processo idêntico efectuado num semicondutor (apenas alguns nanosegundos). E tudo isto ocorre à temperatura ambiente.
Metendo o electrão nos dois estados de spin simultaneamente, obtemos um qubit com uma vida longa, e com outros dispositivos ópticos este qubit poderá ser entrançado (entangled) com outros qubits vizinhos, criando assim uma porta lógica ou processador para futuros computadores quânticos.
Podem saber mais em http://www.qcaustralia.org/home.htm

Bem vindos

Nada como estrear este blog com uma mensagem de boas vindas. O facto de não começar com um post sobre ciência relembra-me aqueles professores do secundário, que na primeira aula nunca ensinavam matéria da disciplina (esses eram os porreiros).

Sendo assim, e mantendo esse espírito, desejo boas vindas a todos os leitores e espero que este espaço (ou deveria dizer espaço-tempo) sirva para que aprendamos a partilhar ideias.

Agora podem sair, começamos a sério no próximo post.